Milite Aquilae Traiecit Rubiconis - Ares Primum

Os anos voam. Se dispersam, passam por ti sem o mínimo de aviso. Lá se vai uma, duas folhas do calendário quando então tu observa e pronto. Está na hora de troca-lo. E parando a correria, com uma xícara de café na mão, a cabeça fica atordoada. E é então que vem as lembranças

Lembra quando era pequeno o que imaginava se tornar ao ser "grande"? O que pensava que iria fazer e como os outros iriam reagir? E ainda pensava, com a lentidão do tempo de escola onde nada parece andar que ainda se conversaria com as mesmas pessoas de então. O presente era como um semblante eterno.Uma sombra que nada prometia, fazendo o futuro sempre soar mais doce.

E para sua surpresa estes anos chegaram. Estranhos. Trazendo um Eu diferente, mas, muito provavelmente distante daquele que se esperava alcançar. E só começa a crescer quando a vida lhe joga problemas ou por alguma loucura insensata e inquieta se decide que além da roupa, além dos dentes e de sua carne, tem algo mais para descobrir. Desvendar de si. Uma nudez que não se fala com pudor porque simplesmente a maioria opta por ficar sem tentar enxerga-lá. Existem deslumbres, choques, e raios de luz que põem essa carcaça de fibras na sua frente. Mas precisa de uma pitada de inquietude para ir e encarar, e logo de cara vai se encontrar com uma passagem fria, triste, e com paredes extremamente altas. O eco da sua voz fazendo conforto, dizendo sempre o quão estúpido ou agradável você é.

Encarar o abismo leva a entender que ou se decide ficar ali, estatelado no escuro, ou passa a se agarrar cada centímetro de força como gatilho para sair do marasmo. Para encontrar a coragem, a vontade. Nisso, sobre o mesmo ímpeto de fome, agarra-se cada pedaço da parede, crava-se a unha sobre a terra, apesar de cego segue-se adiante.

No fundo é a chama da crença de que isso tudo fará algum sentido que te faz querer continuar. Dá para enxergar aonde vai levar? Não. Só se sabe que lá em cima, bem lá em cima, existe luz.

O suor e sangue que vai ser derramado, as quedas que a falta de asas tal como Gabriel e Ieilael ostentam, te fará fraturar, chorar, querer desistir.

Se está escuro... Feche os olhos. Pare de imaginar. Em cada instante de perda de fôlego, de necessidade de apoio, respire fundo. Encha teu ventre de ar e avance... Nada mais.

Costumo tentar colocar a posição de um soldado que com apenas um escudo para manter distância da lâmina que com certeza vai te ferir, o que tu pensaria. Correria?

Uma vez atravessado o Rubicão, a escolha vai sempre se mostrar a ti. Independente de qual caminho prefira optar.


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