O Pátio de Areia

Um farol, uma luz, no limiar horizontal dos olhos
Qual tamanho pedido é este? A quem o sopro toma tons
Multi cores, jogadas na fresta d'alma exposta
Céus meus, guiem-me peito adiante

Pois esta duna larga reacende,
Anseio tolo por retorno ao oásis d'água fresca,
E ânimo escuto a voz versada e quente,
De tal estreita passarela,

Pecado meu, pecado nosso,
O quão pretende ferir inda a sarça?
Neste meio eu sei, foi o pai do filho provado
Aquele cuja obediência trouxe graça,

Vistes a torre atrás? Mil moradas ela continha,
Mil vozes de cabeças diferentes ,
Porém todas de igual som, serpenteiam, serpenteiam
Esquecidas do raio cujo parto são odisseias,

Mas sem estas não teria tido com Ele,
Tua voz é maior do que o globo,
Chamou-me, Chamou-me
Ouvi e agora cá estou, tremendo,

Oh homens das sombras e águas frescas,
Recordai quando Seu nome trazia medo,
Pois as vestes deste Senhor, são lâminas
De fogo, fogo puro

Tal como o sol deste trajeto,
Tenho suor na pele, que não mais sinto,
Tamanho é o arder que permeia os poros
Mas cansaço não me toma, peixe e cordeiro

Adiantes dançam no imaginar,
Estou cego? Inda não, apesar do escuro,
Vestes me cobrem peito e vergonhas,
Braço nu esforça-se a manejar cajado longo,

Nisto vem pensamento, vai embora conhecimento,
Retorna aquela história, vai-se outra,
Ocorrência disto é o dito: Estou vivo?
Ou seria outra a resposta esperada?

Gaguejo sem falar, voz minha descobre
Sou livre para voltar, livre para ficar,
Existe recompensa pensada?
É este o pátio final da loucura?

O peito triunfa sobre o medo,
Coragem oriunda do ato,
Distante do oásis e da torre,
Afundado na areia e na memória

Roubada e minha,
Sinto vida fluir e caminho,
Passo a passo,
Sentindo o fim da linha,

Estou cego?
Agora mesmo farfalhou um som,
Oriundo do deserto estreito
Ouvi um antigo tom,

Cheira a mirra esta areia entre meus dedos,
" - Vem, venha..."
Quem és tu?
"- Sou a resposta da tua prece"

Ocorreu agora... Farol e guia.

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